domingo, 1 de abril de 2012

http://revistaescola.abril.com.br/fundamental-1/chuva-634351.shtml

 

A CHUVA            ARNALDO ANTUNES  

Vai chover poesia

Use o concretismo de Arnaldo Antunes parainiciar uma viagem pela linguagem poética

Dá para imaginar um poema sem versos? Até 1956, quando surgiu a poesia concreta, poucas pessoas ousavam pensar assim. Décio Pignatari e os irmãos Haroldo e Augusto de Campos deram destaque a aspectos visuais e sonoros e o papel principal do texto passou a ser da palavra. A seguir, você conhece as sugestões de Odonir Araújo de Oliveira, professora de Língua Portuguesa e Literatura e assessora pedagógica em São Paulo, para trabalhar o poema de Arnaldo Antunes em aula de aula. As idéias servem para todas as séries. Aprofunde as atividades de acordo com a resposta da turma. "Para explorar a linguagem poética é fundamental estimular as descobertas, mostrando que é possível ter inúmeras impressões", ensina Odonir.

Inicie com a leitura frase a frase para que os estudantes percebam o ritmo, as rimas e a estrutura. Estimule-os a dar explicações que justifiquem o modo como o autor construiu o texto. Em seguida peça que leiam novamente, deste vez prestando atenção à sonoridade: a repetição da palavra chuva e o efeito causado pelo som /ch/. Afinal, o que o poeta quer dizer?

Forma trabalhada, é hora de explorar o conteúdo. Promova uma discussão sobre as prosopopéias (personificações das ações e características atribuídas à chuva) e as metáforas. No texto, a chuva passa a agir como ser humano? Todas as descobertas podem ir para um grande painel, em que os alunos retratarão com desenhos, colagens ou pinturas as diversas situações imaginadas pelo poeta. O resultado será uma visão global daquilo que o texto sugere. Nesta fase, inclua o colega de Arte para uma aula sobre grafite, expressão artística típica das grandes cidades (leia uma sugestão sobre o tema no Site do Professor).

Para turmas mais avançadas é possível também explorar a estrutura sintática. Compare as frases em que a palavra chuva aparece como sujeito agente, orações em que o verbo está elíptico ("A chuva sobre os varais") e frases nominais ("A chuva apenas", "A chuva de canivetes"). Questione sobre as diferenças e o efeito que cada uma confere aos versos. Peça que listem todas as estruturas que aparecem no poema e os exemplos que correspondem a cada uma delas.

Toda essa discussão vai abrir espaço para desenvolver uma série de atividades. Peça uma pesquisa sobre o concretismo. Vale trazer outros poemas e letras de música de Arnaldo Antunes para cantar e declamar na sala de aula. Sugira que todos criem as próprias poesias.l

A chuva derrubou as pontes. A chuva transbordou os rios.



A chuva molhou os transeuntes. A chuva encharcou as



praças. A chuva enferrujou as máquinas. A chuva enfureceu



as marés. A chuva e seu cheiro de terra. A chuva com sua



cabeleira. A chuva esburacou as pedras. A chuva alagou a



favela. A chuva de canivetes. A chuva enxugou a sede. A



chuva anoiteceu de tarde. A chuva e seu brilho prateado. A



chuva de retas paralelas sobre a terra curva. A chuva



destroçou os guarda-chuvas. A chuva durou muitos dias. A



chuva apagou o incêndio. A chuva caiu. A chuva



derramou-se. A chuva murmurou meu nome. A chuva ligou o



pára-brisa. A chuva acendeu os faróis. A chuva tocou a



sirene. A chuva com a sua crina. A chuva encheu a piscina.



A chuva com as gotas grossas. A chuva de pingos pretos.



A chuva açoitando as plantas. A chuva senhora da lama. A



chuva sem pena. A chuva apenas. A chuva empenou os



móveis. A chuva amarelou os livros. A chuva corroeu as



cercas. A chuva e seu baque seco. A chuva e seu ruído de



vidro. A chuva inchou o brejo. A chuva pingou pelo teto. A



chuva multiplicando insetos. A chuva sobre os varais. A



chuva derrubando raios. A chuva acabou a luz. A chuva



molhou os cigarros. A chuva mijou no telhado. A chuva



regou o gramado. A chuva arrepiou os poros. A chuva fez



muitas poças. A chuva secou ao sol.


 


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